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Empreendedorismo com Brownie

Atualizado: há 3 dias



Talvez você já tenha visto o texto anterior, o Empreendedorismo com Pipoca, e deve estar se perguntando se eu só falo de comida. Justo. Normalmente, meus exemplos em aula são relacionados à comida, música e canetinhas. Quem sabe, um dia até faço aquele texto sobre o que os Stray Cats e o Seth Godin têm em comum. Mas isso fica para outro dia.


Hoje, quero falar sobre brownie. Aliás, é sobre a Dona Maria, dona da receita mais famosa da cidade, que também é a senhora de 68 anos que precisa de uma rendinha extra para pagar os novos remédios, porque a aposentadoria não dá conta e está tudo muito caro.

Era uma vez a Dona Maria que, aos 68 anos, era a dona da receita de brownie mais gostosa da família. Aquele tipo de receita que faz os vizinhos baterem na porta quando está saindo do forno.


A Dona Maria precisa de suplementos novos para osteoporose. Ela precisa de mais Vitamina D, precisa parar de tomar tantos cafezinhos com cafeína. Agora, só sem cafeína - o que certamente a deixa aterrorizada.


Com o que ela ganha de aposentadoria e pensão do falecido marido, ela vai ficar muito apertada. Precisa dar um jeito de trabalhar e ganhar um dinheirinho extra. A família mora longe, e tampouco quer se sentir dando trabalho, entende? O filho, Fernando, certamente ajudaria, mas ele está comprando um apartamento em pesadas prestações e, para piorar, a mensalidade da escola do João - seu netinho de 4 anos - só sobe. Fernando conta moedas inclusive para ir visitar a mãe com a frequência que gostaria. Ela entende e apoia. Não é fácil para Fernando manter a casa, a família, o filho e ainda visitar a mãe.


Dona Maria fora dona de casa a vida toda. Suportou o marido durante sua carreira. Criou um filho capaz e competente. Sentia que sua missão estava cumprida mas, de alguma forma, sente que deixou de viver um sonho. Explico: Dona Maria (ainda quando era Mariazinha) e sua mãe, Dona Odila, quando viva, cozinhavam para vender para a vizinhança e para a padaria do Sr. Manuel. O Sr. Manuel sempre gostou muito dos doces de Dona Odila e, apesar de ter um menu extenso e delicioso, sempre encomendou os quitutes de Dona Odila. Há quem jure que estes dois tiveram uma história de amor em algum momento dos anos 40, mas isso fica para outro texto.


O fato é que Dona Maria sempre quis ter o negócio dela. Seu marido jamais a apoiou, afinal "ele era responsável pelas contas, e ela pela família". Um tanto antiquado, até, mas ele insistia e se sentia bem assim. Hoje, sem o marido por perto, ela entende que em plena saúde e com tanta informação disponível, e tempo, ela poderia começar a pensar nisso. Quando Mariazinha e Dona Odila cozinhavam, Mariazinha se imaginava gerenciando uma equipe na cozinha, produzindo e vendendo para a cidade inteira. Sonhava com uma cozinha industrial, ajudantes, o som do sininho tocando avisando o garçom que mais um prato havia saído da cozinha. Sonhava com a correria, a temperatura alta do fogão, com o som do refogado de cebola e alho gritando na frigideira.



Dona Maria, neste contexto, resolveu fazer seus brownies para vender. Ela sabe que seu brownie é melhor do que qualquer outro por aí e que provavelmente conseguiria fazer sua renda extra com tranquilidade.


A Dona Maria, que faz brownies para vender:


Começou a fazer três formas grandes de seus brownies, avisou as vizinhas que iria começar a vender, deixou um papelzinho pregado em sua porta avisando o preço e os horários de retirada. Percebeu que todos os dias ela fazia três formas mas sobrava uma inteira. Ela seguia fazendo as três formas porque o que sobrava ela dava para as vizinhas. Conseguiu quase todas as semanas a renda extra que precisava. Eram mais R$200 por semana de lucro, estava excelente e, com pouco esforço, conseguiu pagar suas vitaminas.

Dona Maria olhou à sua volta e pensou: é tudo que eu preciso.

A Dona Maria, empreendedora:


Fez uma forma, embrulhou pedacinhos quadrados em um saquinho que sobrou da festinha de seu neto, e deu para as suas três amigas mais críticas: Dona Joana, que "não segura a língua na boca" e já veio dizendo que podia ter mais chocolate; Dona Mariquinha, que lambeu os dedos ao provar o conhecido brownie; Dona Quitéria, que elogiou muito e pediu um pedaço a mais para seu netinho que estava lá visitando a vovó. Será que precisava de mais chocolate?


Dona Maria saiu pelo quarteirão provando todos os brownies que eram vendidos, ficou realmente obcecada por esta investigação. NUNCA havia recebido esta crítica. Depois de degustar cerca de 12 brownies e com os níveis de açúcar elevados, Dona Maria havia notado que os brownies que são vendidos por aí tem, de fato, mais chocolate. Não com a qualidade do chocolate dela e, para aumentar a quantidade de chocolate, provavelmente precisaria aumentar o preço do doce. Para aumentar e ainda ser competitiva, precisaria investir em algum diferencial e resolveu pedir para o filho de Dona Mariquinha, designer, fazer uma embalagem mais atrativa. Até encareceu, mas a solução de embalagem foi boa - o mesmo saquinho, mas com um adesivinho com logotipo personalizado muito simpático. Dona Maria, agora era dona d' O Brownie da Vovó.


Conseguiu encontrar uma forma de incorporar mais chocolate, comprou ingredientes em maior escala no atacado, negociou um bom desconto e testou novamente a receita 2.0 com o mesmo público cativo: as três amigas. Dona Joana, a crítica, elogiou e já encomendou uma quantidade grande de brownies para a festa de seu neto. Também ganhou desconto. As outras duas, Dona Mariquinha e Dona Quitéria, elogiaram de monte e comentaram que realmente este chocolate era divino.


Dona Maria, então, testou a nova embalagem: foi sucesso na primeira! O caminho era promissor. Sentiu que era um bom começo.


Com a encomenda grande de Dona Joana, precisaria parar todo o desenvolvimento para dar conta de cozinhar tudo a tempo! Eram dois dias, e a quantidade era grande. Fora que Dona Maria teria que ir ao mercado e comprar tudo sozinha. Contava com a ajuda de Lucia, sua ajudante que auxiliava nas atividades de casa mas, ainda assim, era muito trabalho para as duas.


Com o pagamento de Dona Joana, Dona Maria conseguiu investir em um forno novo, em um jogo novo de formas e ainda conseguiu negociar um bom desconto nas vitaminas e suplementos na farmácia, acertando o pagamento dos próximos meses à vista. Aprendeu a usar o Instagram, pediu para o designer tirar também umas fotos bem bonitas dos seus brownies para publicar. Aprendeu a fazer vídeos ensinando truques de cozinha e, uma vez por semana, faz lives contando suas histórias de quando ainda era Mariazinha e Dona Odila entregando comidas para a vizinhança e padaria. Ela dá o maior ibope, e sempre depois das lives tira pedidos e dá descontos para os 10 primeiros.


Dona Maria, proprietária d'O Brownie da Vovó, olhou à sua volta e pensou: é um excelente começo.



Tenho certeza que você conhece muitos casos de Donas Marias que precisam complementar a renda e vêem no empreendedorismo uma forma de atingir este objetivo. Quero ilustrar neste conto semi-ficcional que é possível, que há espaço. Que temos nas nossas mãos o que precisamos para começar, mas nem sempre temos a coragem de nos desafiar a fazer mais, fazer diferente. Que empreender é mentalidade.



 
 
 

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© 2025 por Alessandra Gaeta.

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